Depois de ter vocês

Depois de ter vocês

sábado, 12 de novembro de 2016

Minha primeira experiência como DOULA. UMA VISÃO PESSOAL E ÍNTIMA SOBRE AQUELE PLANTÃO

24/08/2016
Cheguei no ISEA, um hospital público de Campina Grande, muito ansiosa para por em prática o que eu havia aprendido no final de semana e com medo, porque até então eu só conhecia a teoria e eu sabia que ainda precisava e preciso estudar muito, sem contar que eu ainda não sabia se eu iria me identificar com esse trabalho.
Fran, a Doula experiente que iria nos acompanhar, me passou muita segurança e me deixou muito a vontade com seu jeito carinhoso de nos tratar.  Logo percebi que a melhor forma de aprender na prática seria me doando 100% e foi isso que fiz. Me despi de qualquer medo e preconceito que pudessem me rondar e mergulhei de corpo e alma nessa vivência.
Vi pessoas carentes de informação, de cuidados e de atenção. Vi uma equipe atenciosa, amorosa, humana, comprometida com a mudança de uma realidade dura e vi também o outro lado, violência física e psicológica.
Dois partos normais, naturais, cheios de respeito. Um deles eu só vi o momento do nascimento, e que nascimento! Vi nascer uma linda criança e uma mãe adolescente que surpreendeu a todos pela forma de parir e surpreendeu a si mesma quando viu que não seria mais uma vítima do sistema. O outro acompanhei bem de perto desde a hora que cheguei. Pude ver a evolução de todo TP e a evolução da ligação que aconteceu entre mim e aquela mulher que, no início não olhava ninguém nos olhos nem respondia com clareza às perguntas dirigidas a ela. Não demorou muito para eu estar abraçada com uma pessoa que eu nunca vi na vida e em meio às dores surgia um vínculo de confiança, carinho e respeito. A cada contração as minhas mãos, braços e abraços eram solicitados, e dessa forma eu ia nascendo para o propósito que ali eu tinha me disposto. Entre choros de emoção e alegria nascia mais uma criança, uma mãe de primeira viagem e eu, uma Doula transbordando de amor por aquele novo trabalho.
Presenciei também dois momentos de luto, e participar disso foi muito difícil porém, necessário. O que falar para uma mulher que sentiu o milagre da vida em seu ventre por dois meses e que repentinamente estava deitada numa cama para fazer um procedimento e vê o seu filho sendo retirado de dentro dela já sem vida e sendo jogado no lixo como um objeto qualquer por um profissional que nem a olhou nos olhos? Ali eu aprendi que a presença pode valer mais que qualquer palavra. Depois ficaram as quatro Doulas na sala onde estavam aquelas duas mães de luto e nossa missão era levar um pouco de conforto àquelas mulheres. Daqui a pouco estavam todas sorrindo e contando piadas. Aprendi a respeitar o choro e o sorriso triste também.
Por fim, ao me despedir das mulheres que passamos o dia doulando e das que só nos observaram, percebi nos olhos, nos abraços e na fala de cada uma o sentimento de gratidão que me transbordou a alma. Saí dali com uma sensação de dever cumprido e muito feliz por ter feito a diferença na vida daquelas mulheres. Definitivamente, esse é um trabalho que requer muito amor, e eu estou disposta amar.
Obrigada Pamela Siqueira, Rayanne Carvalho e Giseli Bezerra por fazerem parte dessa experiência comigo e me darem a oportunidade de aprender um pouco mais com vocês.  
Obrigada IPESQ, obrigada ISEA, obrigada mentoras Melania Amorim, Fabiana Melo,  Lorena Macêdo, Luanda Pereira, Clara Rodrigues e Franciane Hanel que compartilharam conosco conhecimentos cheios de amor, e a Dra Cláudia Bianka Manhães e Dr Luciano Martins por nos mostrar, na prática, como é receber um bebê e uma nova mãe com respeito.
Gratidão!

Um comentário:

  1. Linda experiência! Desejo poder um dia ter o prazer de acompanhar um a mulher neste momento único e que todos ao redor dela estejam na mesma sintonia de prestar a melhor assistência

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