Depois de ter vocês

Depois de ter vocês

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Relato de Parto, Nascimento do Vitor

Hoje, dia 15/08/16 conclui o meu Relato de Parto.
Se você não tem 5 minutos disponíveis para ler nem comece porque o bicho está enorme! kkkkkkkkkkkk

1 ano depois do nascimento de Vitor eu consegui parir o meu relato de parto. Não sou muito de escrever, prefiro falar porque faço introduções gigantescas, como a que estou fazendo agora, daí gasto umas mil páginas, e falando se resolveria em alguns minutos. Mas senti a necessidade de compartilhar essa experiência de desconstrução de algumas crenças e construção de um novo eu.
Quem me conhece há muito tempo sabe que eu não sou/era o tipo de mulher que sonhava em me casar e ter filhos. Cresci numa casa onde se perdia muito tempo com brigas e discursões, onde eu não conseguia entender o real sentido da palavra família e o que aprendi foi que toda aquela violência não valia a pena e eu não queria uma relação daquele tipo pra minha vida, portanto, casamento, pra mim, nunca foi opção, e ter filho então, nem pensar. Quando as amigas começavam a falar de partos perto de mim, dava- me logo uma vontade de fazer xixi, não me pergunte o porquê disso, pois nem eu sabia que doidice era essa minha! Kkkkkkk
Mas Deus, em sua infinita sabedoria, permitiu que eu nascesse e me criasse naquele lugar para mostrar que há esperança de renovo para um lar ferido, para mostrar que você até pode endurecer o coração, mas Ele é capaz de moldá-lo da melhor forma jamais descrita. Sim, os Seus planos são incríveis. Depois que conheci Rodrigo em 2007 descobri que eu não poderia ser feliz sozinha, como eu planejava quando criança. Namoramos por 2 anos, ficamos noivos durante 2 anos e casamos, tudo tradicionalmente planejado e executado. Já pensou?!
Após 3 anos de casados foi despertado em nós o desejo de sermos pais e planejar algo desse tipo me assustava bastante, porque eu nunca levei muito jeito com crianças, sem contar que eu era a moça que nem casar queria e o instinto maternal aqui passava longe! Fomos ao médico, contamos os nossos planos, nos preparamos e decidimos então expandir o amor que sentíamos um pelo outro, ou seja, "liberamos a produção".
No dia 30 de dezembro de 2014 recebemos a notícia que estávamos grávidos. Não consigo me lembrar de ter sentido outra coisa além de medo ao ler o nome positivo naquele exame (como eu me tremia e como eu chorava, e Rodrigo estava catatônico com cara de quem não estava entendendo nada do que estava acontecendo). 5 minutos depois de ler o resultado eu já estava amando o fato de gerar uma criança, ser mãe, mas continuava morrendo de medo só em pensar que agora eu iria criar essa criança.  A expressão "borboletas na barriga " nunca fez tanto sentido para mim durante aquele réveillon.
Parei meus exercícios no início da gestação por conta da progesterona baixa, mas após o primeiro trimestre iniciei no pilates e voltei para dança do ventre que eu já praticava há 10 anos.
Participei de grupos de mães, me envolvi em rodas de gestantes e encontrei uma Doula maravilhosa. Tive uma gestação super saudável e tranquila, curti todos os momentos porque eu sabia que seriam únicos.
Cheguei na sexta feira pela manhã no consultório da minha GO para uma consulta de rotina mas ela, com toda sua sensibilidade, notou algo de diferente em mim, eu estava muito tensa e angustiada com tanta insegurança sobre o pós parto. Ela então decidiu não me examinar e batemos um longo papo, e entre conversas e choros consegui me desconectar das preocupações da maternagem e saí do consultório super leve e decidida a curtir intensamente aquele dia. Almocei com Rodrigo, ele me deixou num Shopping perto do local onde eu fazia pilates e foi trabalhar. Dei uma volta, olhei umas lojas, fui a pé para o pilates e lá me exercitei com toda a energia que eu tinha. Peguei um táxi e fui fazer depilação, escovei os cabelos e fiz as unhas. Depois disso Rodrigo me pegou no salão de beleza e fomos para uma doceira porque eu queria muito comer um grand gateau. Comemos e fomos passear no Shopping, andei até me cansar de um jeito que eu tive que me sentar por 10 minutos para restaurar as forças e ir até o carro para irmos para casa, já ia dar 22h. Chegamos em casa, tomei aquele banho quente e recebi aquela merecida massagem nos pés. Tive uma noite ótima, dormi muito bem.
15 de agosto de 2015, sábado, o dia começou me mostrando que nem tudo nesta vida está sob meu controle e as coisas nem sempre saem como imaginamos. Acordei às 8 horas e fui fazer xixi, o xixi mais longo e descontrolado da minha vida, era tanta água que eu me assustei. A bolsa tinha estourado e eu não estava sentindo, absolutamente, nada, apenas um leve frio na barriga chamado ansiedade, uma paz muito grande, bem diferente do dia anterior, e uma felicidade sem tamanho. Dei a notícia para a minha Doula, minha GO e meu esposo. Coloquei a playlist que escolhi para ouvir durante meu TP e fui tomar banho, depois fiz uma maquiagem leve e fui tirar a última foto da sequência mensal da minha barriga (sim, tenho um pequeno vício por fotos).
Quando Rodrigo chegou avisamos a fotógrafa para se preparar, pegamos as malas e fomos até a maternidade onde a minha GO estava para que ela pudesse fazer uma avaliação. Revisamos o Plano de Parto ponto a ponto mas como a bolsa estourou às 8h da manhã ela me disse que se não houvesse evolução até às 14h iria precisar introduzir um remédio para evitar uma possível infecção e sugeriu que eu já desse entrada na maternidade que escolhi para ter o bebê. Fomos, e chegando lá, depois de instalados, ficamos sabendo que eu não iria poder parir no quarto, como havíamos planejado, devido às mudanças nas normas do hospital. Fiquei com um pouco de medo porque eu não queria nenhuma intervenção, e um pouco desapontada porque o dia já havia começado fora do meu controle e quando eu lembrava das palavras da GO percebi que já eram três coisas para servir de lição para mim: primeiro, a bolsa estoura antes de tudo; segundo, a necessidade de um remédio para a evolução do TP e terceiro, eu não iria parir no aconchego do quarto que já estava a nossa cara com as nossas arrumações. Isso estava me deixando um pouco tensa, digo um pouco, porque, apesar desses pensamentos, eu estava curtindo cada minuto e cada detalhe desse dia. Mas a maior lição eu recebi quando eu relaxei nas massagens que a minha Doula estava fazendo, orei mais uma vez e escutei a voz de Deus dizendo: "Não temas, eu estou contigo. Está tudo acontecendo de acordo com a minha vontade." Depois disso fui avaliada com um exame de toque às 17h, que não me incomodou em nada porque eu sentia apenas suaves cólicas, e estava com 5 cm de dilatação. Diante disso não foi necessário fazer uso de nenhum remédio. Graças a Deus!
Às 18h as contratações ficaram bem ritmadas mas ainda estavam bastante suportáveis, e eu ainda estava ligada nas músicas que estavam passando e queria conversar e comer. Senti fome e a minha Doula me deu comida na boca como quem cuida de um parente muito próximo. O seu carinho e cuidado me marcaram para sempre. Jantei tudo que tinha no prato porque a fome era grande e eu precisava de energia para logo mais. Aproveitei o tempo no quarto para me concentrar, dançar, trabalhar a respiração e testar várias posições durante as contratações.
Rodrigo já sabia o momento em que as contratações iriam chegar, e antes que eu pedisse, ele já estava lá de braços estendidos para que eu o abraçasse e o apertasse. Sem dúvidas, ele foi essencial em todo o processo. O seu amor e companheirismo me confortavam em cada centímetro dilatado.
20:00 h, outro exame de toque, dessa vez foi muito desconfortável, muito ruim mesmo. Estava com 9 cm e fomos para a "sala de parto" do hospital, um cubículo do tamanho da minha cozinha, mas, para mim, o lugar estava perfeito, porque era ali que eu iria receber o meu filho.
Com 9 cm foi que eu vi o quanto pode doer uma contração, daquelas que faltam forças nas pernas e que te levam a se questionar se você realmente aguenta aquilo. Sim, eu me perguntei se conseguiria aguentar e respondi a mim mesma: aguennnta! Dancei, cantei um mantra que eu não sabia de onde veio, fiquei em pé, de joelhos, sentada, senti calor e sede. Viajei para a partolândia e só estou escrevendo esses detalhes porque minha GO pediu autorização a Rodrigo para filmar minha dança e meu canto. Se não fossem os vídeos que ela me enviou eu não acreditaria tão facilmente no que iriam me contar.
Dilatação total, eu sentada na banqueta, marido sentado por trás de mim fazendo massagem na minha lombar a cada contração, GO e Pediatra pacientemente sentadas no chão, quarto a meia luz, playlist tocando, eu cantando (as minhas músicas) e chamando Vitor. Fiz força e, para minha surpresa, ele não nasceu na primeira força que fiz, daí eu pensei: caramba, tenho que colocar mais força que isso?
Naquele momento o que mais me impressionou não foram as dores, porque a minha mente já sabia que eram dores com um propósito ótimo, e sim a força física que deveria ser aplicada naquela situação. E me encantou descobrir o quanto nós mulheres somos fortes!
Tomei água, fiz mais força e já dava para tocar na cabeça do meu bebê. Eu estava chamando-o o tempo todo, ele me ouvia e vinha, e poder tocá-lo ainda dentro de mim me deu ainda mais força.
Descansei um pouco ao som de Carinhoso, respirei fundo, fiz um pouco mais de força e ele chegou ao som de Quando Fecho os Olhos, às 22:00 h após 30 minutos de expulsivo, sem intervenções e cheio de respeito, naturalmente. Como diz a música, "eu vi o espaço e o tempo em suspensão, senti no ar a força diferente de um momento eterno desde então..."
Ele chegou chorando baixinho e pouquinho, chegou de olhos bem abertos já me procurando, e no calor do abraço dos braços dos seus pais ele pôde sentir todo o amor que o esperava aqui fora.
Rodrigo não conteve as lágrimas e eu não contive o riso. Eu estava muito feliz, radiante! Conseguimos parir! Eu pari e Rodrigo também, ele sentiu as contrações e fez força junto comigo, no fim estávamos os três exaustos. Vitor ficou quietinho enroscado em nós enquanto eu fazia minha longa oração de agradecimento a Deus. Os profissionais saíram da sala e deixaram aquela nova família recém parida, a sós, aproveitando aquele momento de êxtase. Ficamos os três ali, colados, sentindo o cheiro do céu. Fato é que os nossos corpos estavam unidos como família, a ponto de esquecermos de tudo a nossa volta. O significado desse encontro, tão esperado, eu não consigo dizer, tampouco calcular as implicações desse fato para as nossas vidas. Acredito numa presença plena de almas que se unem. Mais tarde o pai cortou o cordão que ligava o filho à mãe dentro da barriga e saíram daquela sala para viverem ligados pelo amor.
Nasceu Vitor, nasceu a mãe Fabiana, nasceu o pai Rodrigo, nasceu a nossa família.

Fabiana Rodrigues Malheiros












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