Depois de ter vocês

Depois de ter vocês

terça-feira, 29 de maio de 2018

Relato de parto, nascimento de Elis

A gestação de Elis foi planejada e muito desejada, tanto que até sei qual foi o dia da concepção e da fecundação. Tinha tudo anotado com detalhes e três dias antes da próxima menstruação chegar eu já havia feito o teste de farmácia que tinha dado positivo.
Mas não importa o quanto planejada e controladora eu seja, Elis chegou pra me mostrar que, realmente, cada gestação é única, cada uma com suas particularidades e que eu não posso esquecer de que existe um Deus conhecedor de tudo a meu respeito, e ainda assim me ama e só quer o meu bem. Nesse caso, não seriam os meus planos que dariam todos certos e sim o dEle que nunca daria errado. Sendo assim, iniciou-se o meu teste para ver se sou tão paciente quanto eu sempre achei que fosse.

Quando descobri que estava grávida, meu coração se encheu de uma felicidade sem tamanho, por essa dádiva, e de um medo gigante, por estar morando em uma cidade há 1000km de distância da minha família.
Enjoei muito no primeiro trimestre (coisa que eu não passei na gestação de Vitor), comecei a ter contrações de treinamento desde as 22 semanas (de Vitor eu só tive uma semana antes dele nascer). Chorei muito por estar sem uma rede de apoio para lidar com os hormônios da gestação e o cansaço de ficar o dia inteiro com uma criança de 2 anos. No fim da gestação, o tampão mucoso saiu 3 vezes por duas semanas (de Vitor o tampão saiu e dois dias depois ele nasceu). Iniciei um pré natal muito ruim, no qual a médica, ao menos, mediu minha barriga, e olhe que eram consultas pelo plano de saúde. Fiquei por um pontinho para ser considerada com diabetes gestacional e ainda tive o resultado do exame do cotonete positivo.
Apesar dessas intercorrências tive uma gestação super saudável, fiz pilates até a última semana antes de parir e comi as tâmaras recomendadas a partir de 36 semanas.
Quando completei 34 semanas nos mudamos de volta para João Pessoa, porque Rodrigo conseguiu uma permuta do IFCE para a IFPB. Era tanta alegria que eu nem me importei em ter que arrumar um apartamento com um barrigão sem tamanho, subindo e descendo escadas, empurrando e desembalando caixas. Era tanta alegria que até os exames de sangue melhoraram, inclusive a glicose que, ao contrário do primeiro exame, deu super baixinha.

A princípio, a nossa ideia era ter um parto natural hospitalar, como foi o de Vitor, mas depois de estudarmos todas as possibilidades decidimos por um parto domiciliar. Preferimos não dividir essa decisão com ninguém da família e com nenhum amigo para evitar muitas perguntas e o desconforto de lidar com as preocupações baseadas em achismos. Apenas quem sabia era eu, Rodrigo e a nossa equipe de PD (Parto Domicilar). Além de não contar pra ninguém sobre o PD também não contamos a minha verdadeira idade gestacional para o caso de passar das 40 semanas e as pessoas começarem com aquela velha pressão de que o bebê já estava passando da hora (mas eu tinha certeza que ela não passaria das 38).
Pois bem, enquanto todos achavam que eu ainda estava com 39 semanas na verdade eu já havia completado 41 e confesso que, apesar de não ser uma pessoa ansiosa, eu já estava pensando no porquê dessa menina ainda estar no forninho já que o irmão veio de 38 semanas e eu estava para cima e para baixo fazendo mudança, arrumando apartamento e me exercitando. E todos os dias eu pedia para Deus acalmar meu coração porque eu sabia que Ele tinha o melhor pra mim e a minha família.

No sábado, dia 12/05/18, acordei com muita vontade de ir à praia. Fomos, e como chegamos muito cedo aquele lugar parecia ter sido feito só pra nós. Enquanto Vitor se divertia eu me sentei na areia e fiquei olhando o mar ao mesmo tempo em que eu deixava o sol descansar na minha pele. Cada onda que chegava até mim, chamava-me e me envolvia de uma forma que mergulhei de cabeça naquelas águas e fiquei um bom tempo lá dentro conversando com Elis e imaginando que aquele vai e vem das águas eram contrações anunciando que a chegada da minha menina estava muito próxima.
No domingo, 13/05/18, já acordei com Elis mexendo muito, parecia estar mergulhando, e estava! Ela passou o dia inteiro se sacudindo e eu estava me arrastando, mas mesmo assim passei o dia andando. Fui para a Escola Bíblica pela manhã, depois almocei na casa de mainha, à tardinha, voltei pra casa, arrumei-me e fui para o culto. Já em casa, deitada para dormir e amamentando Vitor, senti uma pressão na pélvis e junto com um "ploc" (que eu não ouvi, mas Rodrigo e Vitor sim) veio aquele mar invadindo o meu quarto e minha alma se encheu de felicidade. A minha vontade era sair pulando e gritando que a minha bolsa havia rompido!
23h :
- "Mamãe, o que foi isso?"
- "Isso o quê?"
- "Um plof"
- "Foi a mamãe que soltou um pum"
- "Nãaaao, foi outra coisa!"
E ele foi dormir.
Ali, iniciava-se uma linda jornada para a chegada de mais um amor em minha vida.
Enviei mensagem para a equipe avisando que a minha bolsa tinha rompido e fui tomar um banho para me deitar novamente na intenção de dormir enquanto Rodrigo estava montando a piscina. Até dei uns cochilos mas a maioria do tempo fiquei rolando na cama. Às 3h me levantei e fui para a sala, sentia suaves cólicas. Às 4h chamei minha Doula e a fotógrafa, as contrações ainda estavam a cada 10 minutos mas na verdade eu acho que eu queria mais pessoas ao meu lado e eu não consegui esperar. Senti fome, Rodrigo preparou um prato de inhame pra mim e foi colocando na minha boca. Estávamos comendo, conversando, contando piada... Às 6h Vitor acordou, mamou  e depois foi tomar café da manhã. Depois de um tempo comecei a sentir sono, fui pra cama e dormi profundamente por alguns minutos . 7h chegou uma das Parteiras/Enfermeira Obstetra e, como se Elis sentisse a sua presença, fui acordada com uma super contração seguida de outra super contração, e isso se repetia a cada 2 minutos, dando início ao meu tão esperado Trabalho de Parto Ativo!
A partir desse momento eu fui para outra dimensão, as contrações eram muito próximas e muito intensas e eu acompanhava o som das músicas que eu havia escolhido para aquele momento. Depois de alguns minutos entrei na piscina e foi a melhor coisa da vida, deu pra passar pelas contrações de uma forma mais relaxada e tranquila. Não demorou muito pra Vitor querer entrar também e é claro que ele entrou e se divertiu bastante enquanto eu estava bem concentrada em trazer Elis para nós. Não lembro em que momento a outra Enfermeira Obstetra chegou mas quando percebi lá estava ela monitorando os batimentos cardíacos da minha filha enquanto eu estava dentro d'água. E o tempo inteiro foi assim, meu marido e minha Doula ao meu lado, meu filho me fazendo carinho e as Parteiras/Enfermeiras monitorando e anotando tudo sem ser necessário um exame de toque sequer.
Os minutos foram passando e veio aquela vontade involuntária de fazer força, veio também uma vontade de acabar com tudo aquilo rapidamente e ver logo a minha filha, e não sei como consegui racionalizar naquele momento, mas lembrei que eu não precisava fazer força desnecessária, o meu corpo faria isso no tempo certo, então relaxei e curti todo o expulsivo. Não lembro bem se foram dois ou três puxos, sei que a cada um eu sorria e logo depois senti Elis coroando, que sensação maravilhosa, um prazer inexplicável, aquele círculo de fogo queimando e eu gargalhando porque minha filha estava vindo pra mim, eu estava muito feliz.
Todos em silêncio, a música tocando, eu a chamando e ela vindo. Elis chegou devagarinho, saiu metade do corpo, fiquei segurando ela embaixo d'água e esperando seu momento de emergir para esse mundo. Precisei continuar paciente. E ela veio, chegou quietinha para nós, amparada por mim, recebeu os primeiros cuidados nos meus braços, Rodrigo chorava, Vitor não continha a curiosidade e eu só conseguia agradecer a Deus por esse presente maravilhoso. E ela veio, chegou cercada de respeito, sem nenhuma intervenção, não foi aspirada, nem furada, chegou com toda segurança necessária. E ela veio, chegou em sua casa, no meio da sala, rodeada de pessoas queridas, cercada de amor. E ela veio, chegou às 9h16 da manhã, após 2 horas de trabalho de parto, medindo 51cm e pesando 3,600kg, chegou para formar o nosso quarteto fantástico, chegou a cereja do nosso bolo, chegou para mostrar que amor se multiplica.

Grata a Deus por me confiar ser mãe de duas jóias preciosas, por ter me dado um marido tão presente que esteve ao meu lado o tempo inteiro e, magicamente, conseguiu dar atenção a Vitor e às pessoas que estavam conosco (Rodrigo, como eu te amo). Por ter tido a oportunidade de vivenciar tudo isso com uma equipe de profissionais tão competentes, uma Doula maravilhosamente focada e atenciosa,  parteiras atualizadas que se envolveram e participaram de tudo me passando segurança em todos os momentos desde o pré natal e uma fotógrafa com um olhar sensível que eternizou um dos momentos mais especiais da minha vida.

Que experiência incrível!
Deus é bom o tempo todo.

Fabiana Rodrigues Malheiros